quinta-feira, 14 de julho de 2011

Se você fosse outra pessoa no meu blog, do que falaria hoje?

Perguntei para alguns dos meus amigos que estavam online. A Le foi a primeira a responder. Ela falaria de recomeço.
Não me julgo pronta para falar sobre recomeçar, "partir do zero" (como a Le me disse) e tudo o mais, mas a Le foi tão direta na resposta, que eu não me atrevo a dar ouvidos a outro.
Aliás, será que caberia colocarmos as ideias de 'recomeçar' e 'começar do zero' em níveis semelhantes?
Em verdade, creio que não. Julgo impossível começarmos fielmente do zero. Tão improvável quanto a existência de verdades absolutas, integrais. Estamos imersos em bondades, verdades, natureza e sonhos que foram corrompidos antes que tomássemos consciência de suas existências. Uma vez expostos a toda essa atmosfera política, geográfica, cultural e antropocêntrica, fazemos parte dela. Somos o que nascemos acrescidos do que vivemos. Tudo nos agrega, tudo soma. Mesmo que pareça subtrair em algum aspecto, soma. Até mesmo dores e decepções que tanto nos incomodam, em verdade servem de pontes e estrutura para o que ainda construiremos. Começar do zero demandaria algum tipo de transporte, alguma forma de renascimento, que ainda não se encontra ao nosso alcance.
Recomeçar, no entanto, mesmo que para muitos não seja nitidamente possível, é certamente necessário.
Mudar a energia que nos rege, ou ao menos a positividade que ela carrega. Mudança de ares, mudança de hábitos. Experimentar novos cheiros, novos sons, novas cores. Testarmos novos sabores. Submetermo-nos a novas dores e viabilizarmos novos amores. Pra quem vive de romantismo, nada mais lírico que nos permitirmos assistir nosso jardim florescendo novidades, exalando novas fragrâncias... Gostamos tanto das borboletas. Porque não permitirmos a leveza, naturalidade e singularidade de novas borboletas visitando nosso jardim? 
A ideia de renovar insere ou está inserida no gesto de abrirmos mão do que pensamos querer ou nos arriscarmos pelo que realmente queremos. Repensarmos nossos sentimentos, revivê-los a ponto de certificarmos o que é amor, amizade, carinho, respeito ou até mesmo fixação. Através das mudanças podemos ter acesso a clareza, coerência e concisão em nossa trajetória. É possível nos livrarmos dos excessos, é possível evitá-los a partir de então.
Não podemos permitir que o medo de mudar nos impeça de descobrir tudo que há de melhor e mais valioso no mundo e em nós mesmos. Não devemos deixar que nossas dores e decepções nos impeçam de conhecer novas músicas, novos filmes, novos autores, compositores e novas pessoas que nos enrubesçam as faces, estremeçam as mãos, ofeguem a respiração, tornem bobo o nosso riso, iluminem nosso sorriso e nos acelerem o coração.
 E já que tratamos de mudança, porque não permitirmos que o inesperado nos proporcione novas sensações, novos sintomas que desemboquem naquele implicante e imprescindível estado de paixão, de transcendência e inexplicabilidade?! Provável que haja outras pessoas por quem possamos nos apaixonar, além de outras formas de nos percebermos apaixonados, que não se devam diretamente ao fato de quedarmo-nos de 'pernas bambas'. Temos a habilidade de nos apaixonar e o dom de amar. É o que temos de genuíno e essas inerências não se alteram. O caminho que seguimos para nos darmos conta delas e para senti-las, no entanto, é tão passível de mudança quanto nós.
Em favor de jovializarmos nosso coração e alimentarmos nossa alma com toda a plenitude que a natureza nos oferece, é certo permitirmos que a ideia de renovação faça sentido em nosso cotidiano. Em busca de desafiarmos nossas convicções e colocarmos em cheque as certezas que pensamos ter, vale a pena permitirmos que as mudanças nos moldem os modos. No sentido de descobrirmos sempre mais a nosso respeito e nos surpreendermos diariamente tanto com o que nos é estranho, quanto com o familiar, é fundamental que reciclemos, reutilizemos e reinventemos. 
Nos foi dado o presente da vida apenas uma vez. É extremamente interessante vivê-la com a intensidade de um romântico, a perspectiva de um intelectual e a convicção de um sonhador. Sempre prontos para questionar, mudar de opinião, experimentar, arriscar e renovar 'a dor e a delicia' de sermos quem somos.

2 comentários:

  1. Li sem nem respirar. Ufa.
    Eu não acredito em recomeços há muito tempo... Porque mesmo que mudemos muita coisa em nossas vidas, sempre alguma coisa do passado estará vinculada às nossas ações, sentimentos, sensações... Eu prefiro acreditar que é melhor seguir, continuar... Mas por caminhos diferentes. É como parar num posto de gasolina e pegar o retorno mais proximo. e ir por uma outra estrada... Porque se a gente voltar pra casa pra começar de novo, vamos ter que passar por caminhos repetidos... As vezes por ruas esburacadas... E mesmo que mudando o sentido a gente se perca, logo logo a gente se acha. E acho que mudar o rumo tb implica em arriscar...
    Só acho que poderia ser mais facil.

    Vc escreve tão bem..
    te amo tia.

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  2. Já li milhões de vezes esse post e a cada leitura descubro um trecho diferente...
    Esse é o bom do recomeço, sempre tem algo que ainda não descobrimos.!
    E confesso, isso tudo escrito por você é tããããão mais incrível...

    Sua sempre fã!

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