quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Parece que eu to te vendo ir embora, olhando pra trás de vez em quando. Em pouco tempo seu rosto não vai mais se virar pra trás, não vai mais olhar pra mim, e você terá ido. Eu me pergunto o que vai sobrar aqui, de mim, quando você não estiver mais comigo.

sábado, 20 de dezembro de 2014

violento

Escrever é violento. Escrever assim, desse jeito, em palavras, verbos, orações, exclamações e reticências... É desafiador, é violento, sim. Chega a ter um quê de sacrifício. Tem que se haver com as (in)experiências todas que em nós já começaram a ser escritas, inscritas, atravessadas, tatuadas. Tem que se haver com nossas inscrições e tentar transcrever. Mas como é que faz isso? Como transcrever sem tentar (re)visitar as nossas marcas, sem que isso seja intrigante, e por vezes até doloroso? Como lidar com as palavras e dispor apenas delas para simbolizar, para reinventar, pra dar sentido?  Há quem diga que escrever seja terapêutico. Pode ser.  Mas, ainda que seja terapêutico, escrever pode ser também violento. A violência pode ser terapêutica (?). Sei lá. Isso vai longe.
O atrevimento de palavrear coisas que transbordam o universo das palavras... isso evidencia e faz saltar aos nossos olhos o fato de que somos limitados. Nem tudo é possível de ser narrado.
Há um certo tempo tenho estado distante das palavras, tanto as escritas quanto as faladas. Não tenho conseguido comunicar, refletir e questionar de outra forma e em outro ritmo que não digam respeito ao meu corpo e aos afetos que o movimentam ou o fazem parar. A verborragia, por algum tempo, capitulou. A comunicação passou a depender mais dos fragmentos de discursos outros, dos gestos dos corpos todos, e dos restos do que se desconstrói em mim. Ultimamente, mais do que as palavras e o ritmo delas,  seu tamanho e os formatos que cabe a elas, é o corpo que tem gritado, pulsado, movimentado, ele é que chora, ri, derrete. O corpo também é memória. Ele tem meus registros. Ele também inquieta, mobiliza, (des)percebe e con-vida.  As palavras tecem textos, e o corpo é tessitura. Uma vez silenciosa, fiz do meu corpo, caderno, diário, página de rede social.  Estou sendo atravessada pela vida e toda a turbulência que lhe cabe, num tempo que não sei nomear... Um tempo que mede e intensifica nossas inquietações e que, pra além do ritmo batido e martirizante dos relógios comuns, pode pulsar e dançar, ainda, no ritmo desassossegado dos afetos. As palavras são insuficientes e, por vezes, nos traem. Lançado nas experiências, e vivificado pelo encontro com as diferenças, até mesmo o corpo, ainda é pouco. Aqui, a implicação desse corpo também pode parecer violenta.  E a vida não cessa. A vida transborda para além das caixas, rótulos e formas de expressão que nos são apresentadas como possíveis. A própria noção de "possível" se desloca. Existir é inventar outros mundos, e os mundos podem ser bastante violentos...

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

sonho que se sonha só

Sonho, e a maior parte desse universo onírico recebe a mesma visita, da mesma imagem, nos sonhos mais bonitos e mais difíceis que já vivi. E cada sonho é assim: uma experiência, um encontro, uma vivência. Sonho um rosto conhecido, mas que eu só posso ver em breves nuances. Sonho uma voz de acalanto, e uma risada doce, mas que eu sou impedida de escutar. Sonho um conforto e um colo familiar, ao qual eu sinto que pertenço, mas que parece não me caber mais. Sonho conflitos... O conflito dos prazeres, o conflito do sonho que me invade de realidade, dor, carinho e saudade. O conflito e a dor que se produzem sutis em vigília, mas me violentam durante os sonos mal dormidos. Ainda que durma por horas a fio, não sinto descanso. Sonho, canso. É como se estar imergindo, incessante e exaustivamente em questionamentos e afetos que mobilizam e vão constituindo, vão destruindo. Não se trata mais de pensamentos de vigília que me visitam em quimera, tampouco pode-se dizer de realização de desejo que se dê nos sonhos. Não se trata mais de algo que eu consiga nomear. As palavras que conheço, juntas, parecem não dar conta de nomear esse...isso. Mas o nome é o menor dos problemas. Eu tenho mesmo preguiça dessa mania de inventar tanto nome pra tudo. As palavras traem.

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Vamos fingir que é domingo em plena quinta-feira, depois profanar esse teu jeito de freira. Uma estrela do mar acorrentada na areia. E eu vim pra te salvar, eu sou a maré cheia!
(Agenda - Edu Sereno ) 

chaticedemundo

que chatice viver nesse mundo em que parece que todo mundo já sabe demais sobre tudo. até parece que ninguém tem nada novo pra aprender ou inventar, né.
até parece.

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Roubo de tempo

O tempo tem sido roubado.
A premissa de que time is money não pode ser entendida como lenda, mito, como mentira. Tempo não é só dinheiro. Tempo pode ser ferramenta, estratégia, liberdade, e, aos olhos de alguns, pode representar um grande perigo. O tempo do relógio e do calendário entendido, ainda, como o tempo das relações, tempo de sensibilidade, tempo de afetar e se deixar ser afetado, tempo de sentir, viver e questionar, tempo de permitir. Esse tempo é perigoso.
Onde está nosso tempo? Tempo que entregamos um pouco por dia junto dos impostos, taxas, contribuições, votos...  Tempo que não é furtado, mas roubado, marcado pela violência da fome, do adoecimento, da alienação, que não nos deixa tempo para mais nada além de sobreviver.
Onde está nosso tempo? Que tempos são esses, em que não temos mais tempo para inventar, nem podemos ousar ter tempo a perder?!
O tempo tem sido sequestrado e capturado para fins que desembocam em carência, desilusão e desesperança. Chega de desvio de tempo! É tempo de ousar, reivindicar, politizar. Mais do que nunca, é tempo de amar! Amar, por novos tempos!

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

revoluciamar

o que seria, a mola propulsora dos atos de coragem, das dúvidas perigosas, das ideias transformadoras, das pequenas e grandes revoluções... senão o amor?
o que seria combustível de criatividade, inspiração pra poesia, azeite pra máquina última a ser substituída por nós e por nossa maquinaria-sentimental-demaquilada-impetulante-inconsequente, senão o amor?
o que seria fertilizante para os pensamentos e imaginações mais ousados, marginais, delinquentes, bonitos, apaixonados, inteligentes, inteligíveis... senão o amor?
os grandes políticos, conservadores e fomentadores de um sistema que muito bem funciona para que nada de novo aconteça, do que teriam eles mais medo, senão do amor?
e o amor, como capturá-lo, senão pelo roubo do tempo sensível-criativo-fluido-anacrônico de que dispomos (ou dispusemos) para vivê-lo? senão pela captura das relações em sua dimensão mais rica e multiplicadora: a dimensão dos encontros muitos que nos convocam a dar conta da alteridade, a buscar contorno na diferença... ?
como capturar a sede de amor, senão institucionalizando-o, banalizando-o, ou travestindo-o de tédio, preguiça, descrença e desalento?
há que se tomar cuidado com terras nas quais o amor é acreditado vão, inútil e ultrapassado... essas sim: tediosas, preguiçosas, descrentes, e, principalmente, desalentadas... há, no entanto, que se tomar cuidado, e não que se tomar remédio, repulsa, ou repressão frente a elas. terras descrentes não são inférteis. para tudo haverá espaço e alento, havendo espaço para amar. há que se cogitar que qualquer solo se faça fértil e frutífero quando se lançam nele sementes regadas por laços e alianças, por confiança, por apostas nas diferenças, por atenção às (in)certezas, por atenção aos conflitos, ao caos... e por amor.
há que se perguntar por que desagrada o nosso amor e a nossa capacidade de amar. de amar de forma pequena e simples, ampla e gigante. há que se perguntar porque desagrada nosso amor e nossa capacidade de amar as pessoas, as experiências, a natureza... de amar os encontros, a curiosidade, as possibilidades. há que se perguntar por que desagrada o nosso amor e a nossa capacidade de amar as pessoas e as possibilidades. há que se perguntar e que se manter teimoso e alegre. justamente porque são essas -as pessoas e as possibilidades - que, uma vez lançadas em processos de aliança, confiança e amor, são capazes e potentes o bastante para promoverem mudanças... aah, e as mudanças... !
há que se compreender que a mudança não é quista por quem se contenta com a vida e a disposição das coisas, das leis, da sociedade tal qual elas se dão atualmente. há que se compreender que a mudança é temida por quem está avesso às diferenças, e que isso não é inocente, não é obra do acaso. há que se compreender que as tentativas de mudança serão boicotadas por quem teme o amor.
há que se compreender, então, que acreditar e encabeçar as mudanças é também um gesto de coragem, de risco, e  que investir no incerto pode ser também um movimento político, criativo.
há que se compreender que nesses tempos de anestesia e manutenção do estado preguiçoso das coisas, investir e apostar em mudar é, imediatamente, investir e apostar no amor. e o amor, sim, é continente para infinitas possibilidades de vida, de encontro, de existência e de transformação.

amemos, pois!
para que no asfalto outras tantas flores novas e inimagináveis estejam à vontade, e floresçam(-nos).

"Qualquer amor já é
um pouquinho de saúde
um montão de claridade
contribuição
pra cura dos problemas da cidade"

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

divagando

Se na literatura , por exemplo, autores e personagens têm licença para serem loucos, cruéis, bandidos, mocinhos, apaixonados e céticos ao mesmo tempo, não seria o espaço literário também um espaço de fuga, descanso e permissão para sensibilizar-nos com o caos que desenha a vida real em sociedade, e inclusive autorizar-nos a estar em outros "papéis" na vida, ainda que em imaginação? E a  "licença poética", por exemplo, de que os escritores reconhecidos dispuseram/dispõem para cometer erros, deslizes semânticos e sintáticos, ou para inventar palavrasnão seria um aceno para algum possível desejo de não se dobrar a regras e dificuldades impostas, que são difíceis de serem explicadas/aceitas, bem como por vezes também são as regras e dificuldades da gramática (e da vida em sociedade)? Ou ainda, por que restringir essa licença, hierarquizando-a e cedendo-a apenas a alguns? Que mal teria se o acesso à reinvenção da linguagem fosse tal que também os erros dos não-poetas pudessem não ser entendidos necessariamente como erros, mas como invenções e possibilidades? 
Sei não... apenas divagando...

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

esses meninos

Tenho pensado um montão nesses meninos...
Nesses que não escolheram ser ladrões, marginais, que não pediram para ser "independentes", muito menos para serem sozinhos. Nesses meninos que saem pelo Brasil, batendo carteira, bagunçando nas feiras, chamando nossa atenção pra vida de abandono que levam, pras dores que assolam essas existências, no litoral, no sertão, na capital, no interior. Nesses moleques de pele queimada, barriga vazia e boca cheia de respostas, prontidão, palavrão... Nesses pivetes atrevidos, sem eira nem beira, que arriscam suas peles, suas crenças e seus sonhos em troca de pão, em busca de atenção. Nesses meninos que vivem às margens, sendo ignorados, lidando com indiferença, ou ouvindo de desconhecidos: "marginal", "delinquente", "ladrão".
Tenho pensado um montão nesses meninos... que, ainda assim, se arriscam a brincar, sorrir e que as vezes, penso, caem a chorar... calar... tenho pensado no peso do acolhimento, cuidado, carinho, atenção, alimento, cobertor, educação, cultura, parquinho, leite, ovo e pão.
Tenho me perguntado se não seria eu também um desses meninos, vivendo nesse universo sem condição. Não sei que caminhos eu escolheria se tivesse eu que gritar por alimento e atenção. Não sei nem se minhas pernas teriam força para seguir algum caminho, se em todo caminho eu fosse vista como a causa, o problema e a sujeira da questão.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

... as vezes ando só, trocando passos com a solidão
momentos que são meus, e que não abro mão...
(Ana Carolina )

quinta-feira, 3 de julho de 2014

uuuuuff

Foco!
seu foco te sufoca    
solidez é solidão
ofusca.
Foco
Seu-foco
Sufoco
...
 :x
 :X
...
.     ...        
ARTE...
         ar.. te          ..
...
...
ARTE!!
                AR          -         TE

-Respira-
... Ufa.


arte para não morrer de verdade

segunda-feira, 17 de março de 2014

frustrum

na integridade passional da ação
há algo que se rompe
uma paixão que se interrompe
pra que diga oi a frustração

frustrum: fragmentado, quebrado, sem unidade.

frustro,
 choro.
choro e demoro
frustro
acho injutsto
justo comigo
que por muito pouco
não só choro
não só frustro,
frustro e choro
e -que injusto! -
choro e demoro
  



segunda-feira, 10 de março de 2014

Sincronicidade

O livro dizia que "depois de atravessar o oceano na sua busca, depois de tê-lo confundido com a paixão nas carícias veementes de Rebeca, Pietro Crespi tinha encontrado o amor." Sentiu e pensou com empatia "que sorte a dele!". Os olhos descansaram do livro e circularam pelo vagão. Um casal, que já vinha dançando com graça pela estação, se beija. O casal ao lado repete o gesto, e se ali consigo seu amor estivesse, ela faria o mesmo.
Pode ser que o amor, mais do que o beijo, seja contagioso... Deve obedecer (ou quem sabe reger) a coisa da sincronicidade. Aqueles amantes a transportaram também para o amor que ela sente. E num momento simples que teve a sorte de viver dessa maneira, o personagem Pietro Crespi, cada um daqueles casais no vagão e ela viveram alguma sincronicidade. E o amor regendo e inundando sincronia na cidade...

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

tem um silêncio nos lábios que grita sempre para ninguém, além de si,
um discreto veneno que se esconde ao ver a presa confiante que sorri.
essa voz latente e serena que se insiste em manter segredo;
esse grito-sufocado da garganta, atenta que não é calma! pode ser medo...

O Rappa, "A Minha Alma"



quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

falando de amor

Estou falando de usar menos talheres, de escolher menos as roupas, de pentear menos o cabelo, de mudar o penteado, de andar descalços, sujar os pés na lama, construir castelos e fazer desenhos, rabiscos, declarações na areia. Estou falando de queimar o pé no chão quente do asfalto, de chorar a dor de perder, a dor de cotovelo, dor de dente, dor de viver, de chorar de rir. Falo de assistir mais vezes ao sol nascendo e se pondo, de deixar a chuva molhar, de escutar sobre a vida de um mendigo, de sorrir pra gente estranha, de falar mal na cara do vizinho, de reclamar do que indignar. Falo de contar piada pro porteiro, pendurar recado no elevador, usar mais vezes a escada, descer a ladeira escorregando de bunda num pedaço de papelão. Estou falando da orquestra conhecer o funk, da madame suar no samba, e gastar o salto no forró, e ainda, da favela cantarolar Caetano, Chico e dançar tanto ao som de Gilberto quanto de Preta Gil. Estou aqui falando sobre falar de amor em mesa de bar, em consultório médico, e de ir mais vezes ao bar, e, quem sabe, menos vezes ao médico. Estou falando de interromper algumas reuniões, de faltar em outras, de dar telefonemas inesperados, fazer visitas inesperadas, abraçar gente querida, ter por “querida” gente nunca antes vista, mostrar mais vezes o dedo do meio, falar mais palavrões, escutar música alta, dormir horas a fio depois de uma boa noitada, passar horas sem dormir aproveitando certo momento, como se não houvesse mais nada. Estou aqui falando de dar risada na frente do chefe, de dar a cara à tapa para a mãe e o pai no almoço de domingo, de dizer o que pensa ao melhor amigo e também ao inimigo, de ser sincero nos relacionamentos, de se jogar num relacionamento, ou de abrir mão deles se achar que não couber. Falo de ir a lugares inéditos, arriscar mais pelos processos, e menos pelos resultados e méritos, dançar mesmo sem haver música, cantar sozinho no meio da rua, pular de altas montanhas, dormir na grama,  expressar ciúmes, dor, mágoa. Estou falando de amor. De escrever uma carta de amor, de escrever um poema de amor, de fazer amor. Estou aqui falando de entrar em contato com a nossa imaginação, com nosso desejo, nosso sofrimento, com o fôlego todo que temos, e que querem nos fazer esquecer, querem nos fazer des-perceber.