quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Vivi uma longa cruzada contra meu próprio corpo.
Despejei sobre ele um monte de ódio, descrédito e maus tratos.
Considerei que ele não me servia. 
Julguei feio, impróprio. 
Escondi esse corpo do mundo.
Tornei meu corpo mudo.
Silenciando a expressão do meu corpo, me calei.
Esse corpo que sempre me honrou. 
Me levou a lugares concreta e subjetivamente sensacionais.
Me proporcionou sentires e devires. 
Me permitiu sorrir, gritar, 
correr de um jeito engraçadinho, 
andar com uma postura que é só dele, 
chorar todas as dores que me afligiram, 
tropeçar nos obstáculos do caminho, 
girar, mudar e reinventar todos os percursos... 
Esse corpo que me lançou no mundo 
que sempre me brindou e tanto me serviu. 
Esse corpo perfeito que eu julguei, condenei, odiei e mutilei.
Dentro e fora.
Ele me respondeu. 
Me fez cair e uma parte dele se rompeu.
Me fez parar e olhar para o significado do caminhar.
Precisei pedir perdão,
a esse corpo, sim, mas também a mim
É hora de fazer as pazes com meu corpo e comigo
E tenho certeza que não será tão fácil assim.
Fazer as pazes
Com minha imagem e minha casa
Entender que meus passos são caminho, que meu corpo me dá asas
da maneira que ele existe,
Ele me escolheu. 
Meu corpo é meu amigo. 
Meu corpo sou eu.

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

A qualquer momento a vida muda.



Olhando pra frente, parece perto demais
Olhando pro aqui, parece que ainda demora
Olhando pra trás, nem acredito em onde estou agora.
Tempo, espaço e suas relatividades.
Ontem, amanhã, hoje, e uma intrigante relação de amizade.
E aquela estranha sensação segue adiante
dizendo que a qualquer momento a vida muda
A vida - impaciente, faceira e falante -
Muda

terça-feira, 24 de outubro de 2017

saudades saúde mental.
saudades saúde física.
saudades saúde.
saudades mental
saúde faísca
saúda
des

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

trajetos

Já tive mais do que um blog ao mesmo tempo.
Morei em duas cidades diferentes ao mesmo tempo. Me senti cultivando mais do que uma família, mais do que uma relação, mais do que uma personalidade, talvez. Amadurecia enquanto me mantinha imatura. Confundia o uso dos pronomes possessivos para me referir à casa, molho de chaves, vizinhos, etc. Sentia que estava sempre de passagem. Que não pertencia, simplesmente. 
Também cultivei -não sem confusão e dificuldade- ao mesmo tempo modos diferentes de pensar, agir, e me relacionar de tal forma que me perdi em tantas confusões de mim. Durante muito tempo eu não me soube. Talvez eu nem me arriscasse, por exemplo, a responder um quizz do buzzfeed sobre mim mesma - tantas seriam as possibilidades de respostas corretas e falsas ao mesmo tempo, que me fariam falhar no teste.
Recentemente voltei a olhar para essas páginas e esses textos, dos dois blogs e, de alguma maneira, olhei pra essa duplicidade de vida em que estive durante alguns anos. Olhei para minhas próprias palavras, e de alguma forma muito interessante, me surpreendi e me admirei, mas principalmente: me reconheci. Percebi que eu estava lá. Desorganizada, descentrada, desestruturada. Mas estava todinha lá. Me senti moradora de mim. Nos recortes de textos, fragmentos de pensamentos, nas imagens e referências que usei. Nas casas que vivi, nos relacionamentos em que estive, nas crônicas todas que teci...era eu o tempo todo. E eu não mais me senti cindida, não mais me senti omissa de mim mesma. Eu não fui uma abstração, uma esquizofrenia, tampouco uma mentira. Olhei para os meus trajetos  tentando ter comigo o mesmo respeito e cuidado que eu teria com qualquer outro ser humano e percebi, felizmente, que eu faço sentido.
Sem muita elaboração, entrei nas configurações do blogger e, no tocante às duas contas diferentes que eu mantinha, importei conteúdos de uma para a outra, unificando as duas contas, ligando duas (das muitas) pontas de mim que deixei soltas por aí, sem apagar nada, sem edições, sem subtrações, apenas conexões.
Essa pessoa que fala de si, do que sente, do que pensa, que opina, expõe imagens, debates e declarações, ainda que controversas  (caso comparadas isoladamente, ignorando-se os contextos)... tudo isso sou eu. Todos esses textos, assim como minhas lembranças, posturas e ações são resultado e processo, ao mesmo tempo, da minha história de vida, que se enriquece cada dia um pouco mais.

sexta-feira, 6 de outubro de 2017

re-flexo

Parei pra olhar os textos que já escrevi aqui e em outros lugares. Quanta coisa já aconteceu, quanto eu me transformei. Como é interessante olhar pra esses textos, pedaços de mim, e viver surpresas, risos, decepções, identificações e dúvidas com relação a mim mesma. "Que boba eu era", "caramba que interessante isso aqui", "não acredito que fui eu que escrevi isso", "lembro de como eu me sentia quando esse texto apareceu", "concordo comigo", "discordo de mim".
Meus ídolos, as referências, os amores, as dores, as delícias e as desavenças... quanta coisa mudou, quanta coisa ficou, quanta vida pulsou. Quantas "eu" já existiram e ainda existem por aí. Reverberam por onde passei. Deixam marcas que eu nunca encontrei. Em cada linha, verbo, verso, poesia, prosa e canção descansa algo da minha história, repousam segredos da minha mente e expectativas do meu coração.
Que privilégio voltar a entrar em contato comigo, com as histórias de mim, e perceber que através de tudo que foi se dando no caminho, eu me transformei, aprendi, questionei, errei, duvidei e cresci sim. E ainda cresço. Descanso, arrisco, rabisco, floresço. Que desafiante, intrigante e perigoso... mas também... que delícia existir!

sexta-feira, 15 de setembro de 2017

nota aos desavisados

O amor é gerúndio.
Se transformando, se moldando, se afirmando e se negando. Se investe, desiste, se diverte.
Amor nunca é. Amor vai sendo...
Amor é dis-forme. E tem tantas formas.

Amor é sólido.
Firme e rígido na beleza, na contradição, na inquietude.
Apresenta uma solidez que grita e não se deixa passar.
Rocha exuberante cuja presença se faz notar.
Consistência tanta que se mostra mesmo a quem duvida de sua concretude.
É barreira pra solidão, acompanhante no sim e no não.

Amor é líquido.
Empresta as formas, curvas e movimentos do que lhe é continente.
Adapta-se ao contorno dos corpos. Espalha-se pelo ambiente.
De tanto ser acumulado em recipientes, pode transbordar.
Pode escorrer pelos dedos se confundirmos aprisionar com amar.
É viscosidade, leveza e textura. Tem sabores, odores, belezas.

Amor é gasoso.
Brinca com batimentos e ritmos que se encontram em abraços.
Em caso de saudades, dores e novidades pode gerar desarranjos e descompassos.
Expande-se quando em liberdade, preenchendo todos os espaços.
Talvez não seja por todos tocado ou visto.
Mas seus ventos sopram até mesmo para os desavisados, anunciando-lhes "eu existo".


(Este texto foi timidamente iniciado em 23 de abril de 2014, recebeu um tempinho de descanso e foi complementado em 15 de setembro de 2017).