sábado, 28 de julho de 2012


"Não chores, meu filho; Não chores, que a vida É luta renhida: Viver é lutar. A vida é combate, Que os fracos abate, Que os fortes, os bravos Só pode exaltar."

(Gonçalves Dias)


quinta-feira, 26 de julho de 2012

Nonsense


"Amanhã, outro dia. 
Lua sai, ventania abraça uma nuvem que passa no ar, beija, brinca e deixa passar...
E no ar de outro dia, meu olhar surgia nas pontas de estrelas perdidas no mar, 
pra chover de emoção, trovejar... ♪"
(Djavan - Lilás)


Eu queria falar de como eu acho que escrever é colocar frente a frente razão e emoção, e por isso tantas vezes nos esclarece as ideias ou aflora os sentimentos. Queria desenvolver os argumentos, exemplos, pensamentos pra que eu chegasse em qualquer conclusão que me justificasse o momento. Acontece que várias vezes eu me pego desvivendo o que eu acredito, me confundindo nas minhas opiniões e me afogando em meus sentimentos. 
Dias como hoje são assim. Dias em que eu gostaria de escrever sobre a própria escrita e suas potencialidades revitalizantes. Quem sabe mudasse a cara do meu dia se eu falasse do ato de escrever, que talvez seja a verdadeira "auto-ajuda", feita por nós mesmos e, apesar de algumas vezes ser forjadamente para os outros, ser em verdade essencialmente para nós. 
Então me encontrei ainda mais confusa e insegura sobre minhas opiniões. Acontece que palavrear meus argumentos trairiam minhas percepções, já que eu não as tive em palavras, mas em devaneios e pensamentos. Como reproduzi-las?! Razão e emoção sendo confrontadas literalmente. Sentimentos desordenados traduzidos e (sub)traídos em palavras que não querem se organizar e se limitar entre aspas, parênteses, vírgulas e exclamações. Eu até prefiro as reticências...
 E ao tentar acreditar que o dia de amanhã será melhor para escrever a minha defesa da escrita, a primeira música querida que me vem a cabeça já me pareceu melhor e mais apropriada que qualquer (pre)texto de desabafo argumentação que eu pudesse deitar sobre esse quadro branco virtual. Sendo assim deixei tanto o trecho da música, quanto a tentativa de texto juntas, dividindo o mesmo espaço nessa página do blog. Para que assim como aqui em mim, ou "lá" onde sou labirinto, e também nesse espaço em que transcrevo e escrevo, nada disso faça sentido ou sequer tenha explicação.
E  eu continuo tendo fé no amanhã.

quarta-feira, 11 de julho de 2012


No entardecer dos dias de Verão, às vezes,
Ainda que não haja brisa nenhuma, parece
Que passa, um momento, uma leve brisa...
Mas as árvores permanecem imóveis
Em todas as folhas das suas folhas
E os nossos sentidos tiveram uma ilusão,
Tiveram a ilusão do que lhes agradaria...

Ah!, os sentidos, os doentes que vêem e ouvem!
Fôssemos nós como devíamos ser
E não haveria em nós necessidade de ilusão...
Bastar-nos-ia sentir com clareza e vida
E nem repararmos para que há sentidos...

Mas Graças a Deus que há imperfeição no Mundo
Porque a imperfeição é uma coisa,
E haver gente que erra é original,
E haver gente doente torna o Mundo engraçado.
Se não houvesse imperfeição, havia uma coisa a menos,
E deve haver muita coisa
Para termos muito que ver e ouvir...

ALBERTO CAEIRO, óbvio.

Pessoa e as cores


Pensei comigo mesma em ler qualquer coisa de Fernando Pessoa antes de sair de casa. Fui pra um site super maneiro em que só da ele e escolhi Alberto Caeiro. La cliquei no primeiro link que apareceu e dentre os infinitos tópicos que se abriram escolhi aleatoriamente o que me direcionou pra esse poema. Para hoje, eu sei que nenhum outro se encaixaria tão perfeitamente em como eu me sinto. Todo o resto, Pessoa (Caeiro), fala por mim.

Passa uma borboleta por diante de mim
E pela primeira vez no Universo eu reparo
Que as borboletas não têm cor nem movimento,
Assim como as flores não têm perfume nem cor.
A cor é que tem cor nas asas da borboleta,
No movimento da borboleta o movimento é que se move.
O perfume é que tem perfume no perfume da flor.
A borboleta é apenas borboleta
E a flor é apenas flor. 
(Alberto Caeiro)

Passa uma borboleta por diante de mim
E pela primeira vez no Universo eu reparo
Que as borboletas não têm cor nem movimento,
Assim como as flores não têm perfume nem cor.
A cor é que tem cor nas asas da borboleta,
No movimento da borboleta o movimento é que se move.
O perfume é que tem perfume no perfume da flor.
A borboleta é apenas borboleta
E a flor é apenas flor.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Sobre Palavras, Silêncio e Música

Palavras são valiosas. Afiadas e certeiras. Cortam, riscam, afinam e desafinam. Nos moldam, nos constroem, cercam, prendem e simulam nos libertar. As palavras nos chegam das mais distintas formas e nos alcançam com pontualidade misteriosa. São sempre guiadas pela magnitude imensurável da vida. 
Palavras de mãe são como profecias ou como a própria voz de Deus a nos aconselhar. Palavras de pai são convites à razão e provocações à vaidade que nos incomodam e clareiam o tino. As palavras de namorados, a experiência pessoal me impede de afirmar como parecem, mas rabisco aqui o palpite de que  embora pareçam doces, sejam também quentes e inconstantes. Palavras de amigos são afagos à alma, são pedaços de nuvens, revestidas de sonhos, ou tijolinhos de consciência, mas elas são invariavelmente acompanhadas de afeto e pulsão.
Vindas de todos os lados as palavras chegam a nós com diferentes faces. Entregues por vozes agudas, graves, veladas, veludosas, são cetim em fitilhos de vida pela manhã ou amargas e cinzentas faíscas de decepções que levam o Sol a se por. 
Entregues em nossos colos despreparados para que as cuidemos, em situações de carência, agonia, desamparo e dor, as palavras nos fazem companhia e consolo. Entregues repentinamente chocam-se com nosso peito quando excedemos em euforia e soamos desrazoados, nos forçando a reencontrar realidades, as palavras nos trazem de volta ao chão. Carregadas de mensagens públicas ou particulares, as palavras nos são entregues até mesmo em silêncio. Esse sim, aliado companheiro. 
O silêncio entre aqueles íntimos que se permitem acompanhar calados, que se permitem dizer e confessar, em silêncio. Que silenciados encontram a liberdade de simplesmente "estarem". E que juntos silenciam para melhor se escutarem... 
O silêncio de nós mesmos para que aprendamos a nos ouvir melhor. Silêncio próprio para que nos acostumemos com a voz que ecoa de forma muito particular, para somente um ouvinte. Silêncio que nos ensurdece com seus gritos sobre onde, quando e quem somos. 
Esse silêncio desafiador que nos permite lembrar o som de nossa respiração, o ritmo de nossos passos... Nos levará a músicas ritmadas por lembranças de laços que encontrarão melodia em beijos e assegurarão harmonia em abraços.
Nossos passos, respiração, lembranças, beijos e abraços se encantarão com a voz aquecida e constante a cantar alguma familiar canção. Aquela composta pelo encontro que eles mesmos promoveram entre  palavras e silêncio. Que será cantada para aquele mesmo único ouvinte, e será finalmente materializada em nós pela mais afinada e infinita voz: a do coração.