domingo, 30 de junho de 2013

mazelas do bem maior


Surpreender-se com toda a ternura do amor de quem te ama
lambuzar-se no carinho doce e deixar o ódio amargo de lado
deixar o amor e sua tinta fria pintarem e aquecerem sua face
inventar junto um amor ainda que assim, com cara de ilusão

E acolher consigo o medo antes escondido debaixo da cama
sorrir lágrimas em colo receoso e ainda não estar desamparado
abraçar os olhos de quem te acolhe e impedir que o amor passe
entender que o amor é mesmo assim, mergulhado na contradição


mãe <3


quarta-feira, 26 de junho de 2013

co(m)sentimento

do jeito que veio, foi
nao tinha intençao de ser bonito, nem de ser bom
mas tinha que ser
e tinha que ser agora
pobre dessa nossa correção automática
insistindo em dar conta do nosso jeito torto
de se alinhar em meio a tanto desalinho

pobre dessa nossa espontaneidade cercada
insistindo em pintar de transparente
a relação colorida que dá asas pra gente,
dois passarinhos no ninho


Notas Intensivas

Não fosse a faca dançante presa entre os dedos, ela estaria desarmada? 

Conversa pra caramba. 
Carambola vai, carambola vem. Descasca-se uma fatia de espontaneidade e... carambolas!
Verdades, confiança, fé e medo. Devoção.  A mesma faca e outras danças. A mesma faca e uma dança. Os mesmos dedos?

A voz dela anuncia: “Lázaro vivia de restos da comida dos ricos que caía no chão. Ele foi para o céu.”
E minha memória resgata: “eu tenho pouco. Queria ter menos ainda”.  “Eu gosto é de pobre. A pessoa... quanto menos ela tem, mais eu quero bem”.
Coloridas, assim, foram doações e caridade. São apreciadas, mas pareceram ter se tornado, com o tempo, menos freqüentes e mais intensas, mais “bonitas” e docemente penosas. Seria o preço de envelhecer?

Caridade, caridade, caridade.
Cara idade.

Toda a muita ou pouca, mas cara, idade que simboliza uma vida:
-“A vida da gente... quando a gente a gente é novo, ela é bonita. Mas essa vida mesmo, essa vida é velha!”

Penso que “velha” mesmo, no sentido que minha querida velha me explicava, seria a vida ausente dessas simpáticas velharias...

Velha seria a vida inércia, a vida oca que à alma emudece. 
E ainda assim, não o afirmo.
Velha seria se amor não tivesse, se a própria vida ela não quisesse. 
E mesmo assim, não sei se concordo comigo.
Velha seria a vida se nada dela se fizesse, se nada nela se doasse, 
e, ainda assim, não o assino.
Velha para ela, no entanto, seria sempre e cada vez em que se tratasse da vida dela. 
E na certeza bruta em tudo que ela fala, aí é que mora o perigo.


Ela se pinta -com tintas que em parte foram colocadas em suas mãos- num mundo anunciado de paradoxos e negações. Nego-as quase todas: “Não gosto de comer, nem mesmo fruta.” – e come duas carambolas; “Não gosto de música, nem de cantar” – e conta das emocionantes canções de Simão Dias, ou ainda do romance sertanejo de Leandro e Leonardo; “Não gosto de bolo” – mas elogia a mão sempre acertada de Marivalda ao preparar os melhores bolos que ela já comeu; “Não gosto de gente sem ação” – mas elogia carinhosamente a moça sem ação que vinha sendo feiamente desenhada pelo genro...

Eu a pinto –com tintas que me foram emprestadas pela centelha de espontaneidade dela- num universo velado de gostos e afirmações. Simpatizo e acolho-as em mim, quase todas: 
na recepção com ternura; na conversa com simplicidade e no tom conselheiro, tom de quem cuida; na insistência em compartilhar – alimento, religiosidade, opinião; na simplicidade de doar – sabonetes, biscoitos, tratar como irmão... Do outro espera um pouquinho e de si, discretamente, entrega um montão.

Essa velha rica, bonita, bonita, bonita, “bonita como uma flor”, me alcança e me desdobra. E me redobra... e des-dobra. Eu com ela,  passada, e ela me amarrota. Doce anedota.

Me desperta pro “não” incompreendido no rosto; me faz buscar o “sim” talvez desde o início já posto e me coloca a questionar o projeto que nas entrelinhas, já se colocou em ação, semanalmente e com muito gosto.

domingo, 16 de junho de 2013

a música de dentro

Imagine uma canção
Imagine tocá-la desatado de todas as conhecidas e antigas cordas
Despretensioso, destemido, desarmado
Despido de técnica e afinação
Desafinado

Imagine o som do mar, a imensidão
Imagine-se inundado pela união de cada sílaba, cada acorde e notas
Pergunta-se, perturba-se, percebe-se
Perdoa-se pela cegueira de até então
Permite-se

Imagine-se uma canção :)

sexta-feira, 14 de junho de 2013

tresevinte

Somos egoístas. Atropelamos do outro o sonho, fazendo mau uso da nossa coragem.
Somos egoístas. Entregamos o pouco que temos para fugir de conflitos. Hostilizamos ainda os que, impelidos de paixão, se arriscam e agem.
Somos egoístas. Não reconhecemos discursos que muito nos contemplam, pela vontade vaidosa de que fôssemos nós os autores.
Somos egoístas. O altruísmo para existir depende primeiro da própria integridade comprometida, e do próprio orgulho mergulhado em dores.
Somos egoístas. Vítimas de um cenário opressor que nos coloca de armas nas mãos e olhos vendados.
Somos egoístas. Reforçados ao atirarmos uns nos outros. Deslocando "culpas" para outros que assim como nós, estão vendidos e ridicularizados.
Somos egoístas. Somos ainda carentes de vida, de humanidade e de amor.
Mais do que isso, somos marionetes...brinquedos de um teatro sem a persona do diretor.
Fantoches numa peça em que quem atua e aplaude não é diferente de quem vaia ou assiste.
Somos egoístas. Somos também deficientes, cegos, aleijados. Em verdade estamos todos doentes e sinto que nada é mais triste.

domingo, 9 de junho de 2013

Recíproco

- Eu tenho sentido seu cheiro por aí...
- Eu também!
:)
Como é bom saber que a gente não ta pirando sozinho.

quinta-feira, 6 de junho de 2013

(Que) Nada como(a) as palavras

    A vida parece um apanhado de acertos e erros. Eu poderia passar horas a fio definhando meus erros e remoendo cada um deles. Mas hoje não. Hoje eu me sinto afortunada por um acerto desajustado que em algum lugar do tempo passado, cometi. 
       Me aproximei da TS.
      Ainda que não soubesse, naquele momento, me aproximei de mim. Hoje eu tenho a oportunidade de me deleitar em encontros sutis, levez e bonitos. Encontros com sensibilidades que de alguma forma, me dirigem em mim. Ah, esses encontros!
      Sou grata à vida que me apontou o sentido que eu precisava seguir para que eu penetrasse "surdamente no reino das palavras". Sinto-me cada vez mais perto dele, e reconheço os encontros ímpares que tenho vivido como alicerces que me permitirão responder que "sim" quando as palavras me perguntarem se eu trouxe a chave para chegar mais perto delas e contemplá-las.

quarta-feira, 5 de junho de 2013

várias dessa = você

pequeno universo de alteração hábil a modificar ou requalificar o objeto principal a que se prende