segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Era aquele dia...


... em que ela estava de coração desarmado para a vida e de janelas bem abertas para o mundo, mas andava com a sensação de que estava fazendo tudo errado ou  pelo menos prejudicando alguém. Não teve encontro nem despedida que não lhe deixasse desapontada consigo. 
Encontros daqueles que circunscreviam sua miudeza e a escancaravam para dentro de si. Encontros dos que faziam colidir a solicitude com o mau-humor, a educação com a rispidez, o sorriso com a lágrima, a indiferença com a atenção... o "ela" com o "ela mesma". 
Despedia-se já de suas "janelas abertas" quando, como que no tempo escorregadio que faz cair a gota de orvalho, chegaram singelas boas novas. O coração se alegrou e a alma até sorriu! Alegria grande e tão descabida, que ela mesma não cabia mais em si.
E então o que restava de seu desarme para a vida a levou a compartilhar as boas novas com um daqueles  poucos que sabem fazer carinho bem lá no fundo do nosso ser: um bom amigo.
Não fosse o desprendimento de si, e de um ideal de acertar sempre com relação ao outro, ela poderia ter cometido erro maior e de maior dano: poderia ter errado com ela, e prejudicado a ela mesma. Compartilhando com o amigo certo, no entanto, recebeu sinceridade e carinho tamanhos que fizeram o seu dia valer a pena.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Plaft


Ela voltava pra casa distraída, tomando chuva pela rua. Cabelo molhado e despenteado pela água e pelo vento, pensamentos todos embaralhados próximos às nuvens que a inundavam...
Se aproximou do farol e escutou do garoto que ali faz malabares qualquer murmúrio que rapidamente interpretou como pedido de dinheiro. Voltando o pensamento de súbito para o chão, respondeu sem muito pensar:
- Não tenho nada, amigo. Perdão.
- OOOOIIII!! ESTÁ TUDO BEM????  - repete o menino, em voz alta e pausadamente, para que ela compreenda de verdade a pergunta que ele lhe havia feito e que ela havia respondido sem ao menos ter escutado.
Desnorteada, ela continuou seu enredo de volta para casa, com as mãos no peito e o pensamento no chão, e o pensamento no farol, e o pensamento no garoto, e o pensamento nela. As mãos no peito, ela sabia, não a ajudariam em nada: ela ainda não se sentia, não enxergava e nem se escutava. O garoto-palhaço-malabarista do farol acabara de abrir um buraco em sua alma... E a alma quando dói, ela dói tanto em silêncio que até ensurdece.