sábado, 26 de janeiro de 2013

Deixa cair


"A vida é a arte dos encontros, embora haja tantos desencontros pela vida." 
(Vinicius de Moraes)


     Até entendo todo o raciocínio e a verdade que devem existir nos conselhos e teorias que nos motivam a atravessar a vida, aceitando o que ela nos oferece. Nada de desfeitas e ingratidão com uma criança tão singular como essa: a vida. Assim, aceitemos as ofertas expostas, nos permitindo, experimentando. Sofrendo, aprendendo, sorrindo, ensinando, enfim... conhecendo todas as faces, os sabores que existem em existir. 
     Reconhecendo o feitio de lição que habita a solidão, o perigo sedutor que circunda a alegria, o doce sutil que vem no fundo do amargo... as singelas gotas de amplidão preparadas e servidas por essa criança esperta que é a nossa vida. Que se disfarça e se maquia para brincar e entreter nossa travessia, dando a ela mesma um ar complicado, um cheiro lírico, sabor  engraçado, tom policial e textura efêmera.
     Isso quer dizer que tem hora que parece que não dá mais... Mesmo. E a gente até acredita que precisa se ocupar, se distrair, se iludir. Mas na verdade não!
     Pra se entender com a vida, a gente precisa mesmo é viver. 
     Viver de verdade, pro bem e pro mal. Não tem outro jeito! Viver vivendo. Isso inclui todos os contratempos e encontros que atravessam essas veredas todas. Não faz mal sofrer, nem errar ou ter dúvida, medo e insegurança. Em meio a outras vidas, inclusive, é compreensível e aceitável que um ou outro se disfarce em sorrisos que emudeçam o pranto, tanto quanto é compreensível que se demonstre à flor da pele mesmo, todos os sentidos, alegres e tristes que a ele chegam. Não mal nenhum nisso!
 Pode ser que faça mal, tanto uma quanto outra postura, mas essa é apenas uma possibilidade que atrai consequências e nos coloca em débito com a vida, como todos os outros fenômenos que se dão com a gente no nosso caminho. Deve-se apenas tomar cuidado ao se fazer dívidas com crianças, pois elas não esquecem. Principalmente as mais espertas! Sendo assim... tudo isso faz dívidas e traz pendências, mas mal não faz.
     O que faz mal é fechar os olhos pra tudo isso, em nome da insistência de sorrir e fingir que está tudo bem, mesmo quando ninguém se vê por perto para acreditar nessa história. Quando o único espectador da nossa felicidade aparente somos nós mesmos e ainda assim teimamos mentir a dor, tangenciá-la de olhos entreabertos, para não alcançá-la nem reconhecê-la. Não nos dando conta de que tangenciando o sofrimento imposto, atravessamos e nos afundamos na infelicidade e miséria comum, hipócrita e de difícil retorno que é a de não se saber, não "se ser" e portanto não viver.
   Fugir da tristeza pode trazer consequências inda mais graves que fugir da felicidade. Se a vida te traz dor, ela também o faz de bom grado!
    "Abre os teus braços, meu irmão, deixa cair"...se é pra isso que aqui estamos, então deve-se admitir que sim, vai fazer mal, vai fazer bem, vai fazer rir e chorar, vai fazer duvidar, acreditar, mentir e sonhar, vai fazer realizar, dormir, desistir e acordar... Mas vai fazer valer, vai fazer crescer, vai fazer viver. E a vida não é isso, ora?! Pois que seja! 
    
     E repito: pra se entender com a vida, a gente precisa mesmo é viver.

2 comentários:

Diz ai!