quarta-feira, 4 de julho de 2012

Sobre Palavras, Silêncio e Música

Palavras são valiosas. Afiadas e certeiras. Cortam, riscam, afinam e desafinam. Nos moldam, nos constroem, cercam, prendem e simulam nos libertar. As palavras nos chegam das mais distintas formas e nos alcançam com pontualidade misteriosa. São sempre guiadas pela magnitude imensurável da vida. 
Palavras de mãe são como profecias ou como a própria voz de Deus a nos aconselhar. Palavras de pai são convites à razão e provocações à vaidade que nos incomodam e clareiam o tino. As palavras de namorados, a experiência pessoal me impede de afirmar como parecem, mas rabisco aqui o palpite de que  embora pareçam doces, sejam também quentes e inconstantes. Palavras de amigos são afagos à alma, são pedaços de nuvens, revestidas de sonhos, ou tijolinhos de consciência, mas elas são invariavelmente acompanhadas de afeto e pulsão.
Vindas de todos os lados as palavras chegam a nós com diferentes faces. Entregues por vozes agudas, graves, veladas, veludosas, são cetim em fitilhos de vida pela manhã ou amargas e cinzentas faíscas de decepções que levam o Sol a se por. 
Entregues em nossos colos despreparados para que as cuidemos, em situações de carência, agonia, desamparo e dor, as palavras nos fazem companhia e consolo. Entregues repentinamente chocam-se com nosso peito quando excedemos em euforia e soamos desrazoados, nos forçando a reencontrar realidades, as palavras nos trazem de volta ao chão. Carregadas de mensagens públicas ou particulares, as palavras nos são entregues até mesmo em silêncio. Esse sim, aliado companheiro. 
O silêncio entre aqueles íntimos que se permitem acompanhar calados, que se permitem dizer e confessar, em silêncio. Que silenciados encontram a liberdade de simplesmente "estarem". E que juntos silenciam para melhor se escutarem... 
O silêncio de nós mesmos para que aprendamos a nos ouvir melhor. Silêncio próprio para que nos acostumemos com a voz que ecoa de forma muito particular, para somente um ouvinte. Silêncio que nos ensurdece com seus gritos sobre onde, quando e quem somos. 
Esse silêncio desafiador que nos permite lembrar o som de nossa respiração, o ritmo de nossos passos... Nos levará a músicas ritmadas por lembranças de laços que encontrarão melodia em beijos e assegurarão harmonia em abraços.
Nossos passos, respiração, lembranças, beijos e abraços se encantarão com a voz aquecida e constante a cantar alguma familiar canção. Aquela composta pelo encontro que eles mesmos promoveram entre  palavras e silêncio. Que será cantada para aquele mesmo único ouvinte, e será finalmente materializada em nós pela mais afinada e infinita voz: a do coração.

Um comentário:

  1. Se eu sou o guru da paciencia, você é o dos bons textos, que sabem chegar no coração das pessoas. Lindo, lindo, lindo. Serve de imensa lição pra muita gente.

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