Despejei sobre ele um monte de ódio, descrédito e maus tratos.
Considerei que ele não me servia.
Julguei feio, impróprio.
Escondi esse corpo do mundo.
Tornei meu corpo mudo.
Silenciando a expressão do meu corpo, me calei.
Esse corpo que sempre me honrou.
Me levou a lugares concreta e subjetivamente sensacionais.
Me proporcionou sentires e devires.
Me permitiu sorrir, gritar,
correr de um jeito engraçadinho,
andar com uma postura que é só dele,
chorar todas as dores que me afligiram,
tropeçar nos obstáculos do caminho,
girar, mudar e reinventar todos os percursos...
Esse corpo que me lançou no mundo
que sempre me brindou e tanto me serviu.
Esse corpo perfeito que eu julguei, condenei, odiei e mutilei.
Dentro e fora.
Ele me respondeu.
Me fez cair e uma parte dele se rompeu.
Me fez parar e olhar para o significado do caminhar.
Precisei pedir perdão,
a esse corpo, sim, mas também a mim
É hora de fazer as pazes com meu corpo e comigo
E tenho certeza que não será tão fácil assim.
Fazer as pazes
Com minha imagem e minha casa
Entender que meus passos são caminho, que meu corpo me dá asas
da maneira que ele existe,
Ele me escolheu.
Meu corpo é meu amigo.
Meu corpo sou eu.